sexta-feira, 3 de abril de 2009

POR UMA EDUCAÇÃO AMOROSA E PRASEROSA

POR UMA EDUCAÇÃO AMOROSA E PRASEROSA
Drª Taniamá Vieira da Silva Barreto

As ações de educação não podem ser elaboradas fora de uma situação real de vida, de uma visão desveladora das relações sociais de produção, da relação do homem com o meio ambiente, de educação e de participação social.
Dentro deste quadro, e associando suas ações com os modos de ver, de sentir e de responder às situações de vida dos homens envolvidos nessa realidade é que surgirão condições para as mudanças desejáveis.
No caso da atual política educacional no contexto municipal brasileiro essa prática emerge do entendimento da ação educativa sob a ótica histórico-crítica carecendo da elucidação das manifestações históricas concretas da sociedade local, Estadual e Nacional, sendo que da Educação é que se desenvolvem as competências, capacidades e habilidades do saber / fazer do professor.
Lembro, contudo, que o processo educativo e suas diferentes modificações variam de acordo com a intencionalidade e a sistematização do próprio ato educacional.
Palavras como: ensinar, aprender, conhecimento, método e relações interpessoais na prática pedagógica constituem elementos essenciais à interpretação da complexa totalidade psicobiológica do ser humano, palco da relação pedagógica.
Os procedimentos que norteiam o ensino-aprendizagem e as concepções teóricas que orientam a prática pedagógica têm, historicamente, fragmentado e desvirtuado o processo educativo, necessitando de reorientação, o que denota a defesa da compreensão de que para corrigir as inconsistências das formas, dos conteúdos das mensagens da sala de aula e da vida escolar cotidiana, é necessária a adoção de uma prática educativa calcada no pensamento crítico. Isto implica a necessária competência científico-técnica dos educadores, para contribuir também com o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo dos alunos, estimular suas potencialidades intelectuais, físicas e espirituais, permitindo-lhes assumir o compromisso de converter os princípios científicos, políticos, morais e sociais em convicções e atos de conduta diária, no saber / fazer, implicando, pois, na busca do significado do seu processo e produto do trabalho.
Há três vertentes teóricas merecedoras de destaque: a inatista, a ambientalista e a interacionista.
A teoria Interacionista advoga um modelo que afirma ser o homem que se relaciona com seu próprio meio e com o seu grupo, pois a sua atuação se dá internamente e externamente, ou seja, resulta de uma ação recíproca entre o organismo e o meio. Neste sentido, o conhecimento do indivíduo é construído em toda a sua vida, não estando pronto ao nascer, como afirmam os inatistas, nem sendo adquirido através do ambiente, como defendem os ambientalistas. Daí se afirmar que através do ambiente com outra pessoa, adulta ou criança, da interação com outras pessoas, adultas ou mesmo crianças, e o indivíduo vão construindo suas características (maneira de pensar, agir e sentir).
Atualmente, duas correntes interacionistas se destacam no meio científico principalmente o educacional. A epistemologia genética de Piaget e a teoria sóciohistórica de Vygtsky. Estas duas têm como concordância, o fato de ambas sustentarem o resultado da aprendizagem como ação simultânea entre os fatores individuais e sociais. Enquanto Piaget defende os fatores individuais e Vygotsky os fatores externos, configura-se um sujeito que não é Passivo, nem apenas ativo: ele é interativo.
Neste sentido, a relação pedagógica é compreendida e exercitada como prática social, em que o "conceito de prática" é essencial à compreensão da atividade humana, sendo ela diferenciada de qualquer comportamento natural. O que podemos afirmar é que só há prática quando o homem dela participa.
A capacidade de raciocinar leva o individuo a buscar soluções para os seus problemas e, ao mesmo tempo, enfrentar novas situações a serem resolvidas, criando e recriando o mundo em que vive, produzindo cultura. Assim, a atividade humana enquanto prática, que se distingue do fazer consciente do homem que, por sua vez se distingue do fazer animal, está incorporada a uma reflexão de mundo sobre a vida e sobre si mesma.
Só analisamos as atividades do educador quando o processo se faz dizer que as mesmas são providas de atos e relação com o aluno(a). A relação professor x aluno se dá em dois níveis ou planos:
No plano informativo é o que caracteriza formalmente o professor, como o profissional do saber; e no segundo está ligada a formação do aluno (a), ou seja, concepção, posição singular do professor.
Saliente-se que para o ensino é necessário o domínio de competências técnicas, científicas e práticas, além de um ambiente favorável de trabalho, interação e uma prática democrática e crítica. Há, contudo de ser considerado o indivíduo e a educação, para se construir os conceitos de cidadania como o exercício dos direitos e a cobrança dos deveres. Isto faz com que o professor assuma o desafio de superar as limitações à liberdade individual e ás desigualdades reais.
A proposta é a de considerar a educação como um processo de indagação e reflexão articulado às atividades humanas. O que significa a criação de um espaço a ser partilhado por técnicos e grupos populares. Uma das formas para a busca de caminhos alternativos e para a transformação das situações que conduzam à melhor qualidade de vida é o levantamento das causas e conseqüências das inconsistência do processo ensinar/aprender e seus determinantes sociais econômicos, políticos e culturais, num determinado momento histórico.
A educação, como um processo de diálogo, indagação, reflexão, questionamento e ação partilhada, propõe, como objetivo principal, tornar as pessoas cada vez mais capazes de pensar - consciência crítica -, e de encontrar formas alternativas de resolver seus problemas.
Sua metodologia, baseada na participação real e problematização, busca a aprendizagem a partir do confronto com as situações reais no contexto de vida grupal. Na busca do conhecimento de sua situação de vida e no encontro de soluções viáveis, os técnicos e a população estarão aprendendo como sobreviver em sociedade e com dignidade.
A educação é uma prática que está sujeita a organização de uma dada sociedade, e deve ter condições de criar um espaço de intervenção nessa realidade, com o objetivo de mudá-la, transformá-la.
A instituição escolar, entre outras, é um espaço limitado, mas importante para o desenvolvimento de ações educativas no dia-a¬dia.
É nela que o professor e o aluno têm o compromisso de compartilhar seu conhecimento popular e seu conhecimento técnico específico, sendo que o professor deve reconhecer que o aluno tem experiências e um saber que devem ser levados em conta.
A educação como tarefa teórica / prática se caracteriza por uma relação de aprendizagem em que não existem o "educador que ensina" e o "aluno que aprende", mas sim um grupo que, por meio do trabalho compartilhado e da reflexão, vai produzindo seu próprio conhecimento, e vai aprendendo a conhecer, a partir da realidade objetiva sentida.
É um processo de construção de um saber coletivo, apontando as possibilidades de intervenção e de transformação dessa realidade.
O comportamento do homem depende de suas crenças, isto é, daquilo que ele supõe seja a verdade. O que comanda a ação é a sua percepção do mundo, pouco importando que para o outro seja verdadeira, parcial ou completamente falsa.
Quando a nossa percepção da realidade está muito longe da realidade concreta, a nossa ação estará longe de produzir os resultados esperados, por melhor que sejam nossas intenções. Repensar a nossa prática educativa é o começo da mudança. Não adianta termos um discurso participativo e uma prática não correspondente.
Antes de nos propormos a mudar o outro, temos que pensar se também não devemos começar a mudança por nos mesmos. Examinemos se estamos, ou não, comprometidos com uma atitude diante da vida e de nossa comunidade, e com as propostas de trabalho pedagógico.
Para finalizar é importante destacar que é preciso estar consciente de que não se trata só de estar consciente. E imprescindível que nossa prática educativa seja coerente com nossas convicções. Temos que converter o saber e o pensar, em ações de diálogo, de "estar com". De rever nossa prática pessoal e a coletiva institucional, com autocrítica. Somente assim a caminhada será no sentido de ajudar a construir uma melhor qualidade da educação e, conseqüentemente, uma escola de melhor qualidade. Assim, teremos condições de transformar a nossa prática docente educativa, fazendo com que a Educação de Messias Targino seja aquela tão, simplesmente por amor aos seus munícipes.
Somos viventes e emergentes de um século marcado pela violência e por uma cultura da violência. As construções políticas e geopolíticas, comerciais e culturais do século vinte, ao lado de muitas conquistas da cidadania e do desenvolvimento tecnológico, passaram por processos muito violentos. Se fizermos um breve retrospecto veremos um mundo palco de crimes sociais hediondos: a guerra 14/18 com seus milhões de mortos e utilização de gases venenosos; a guerra civil espanhola onde o fascismo passou eliminando resistentes e população civil e "quase não deixando a grama crescer", como o cavalo de Átila; a segunda guerra mundial com seus 50 milhões de mortos e seus tristes campos de Dachau, Auschwitz, Treblinka; Hiroshima e Nagazaki, vingança exemplar da maior potência da história de todos os tempos, com seus 200 mil mortos; a guerra do Vietnã, Laos, Cambodja, com cerca de 1 milhão de mortos; o resultado soturno das ditaduras do socialismo real e das genocidas ditaduras latino-americanas; segue-se o genocídio israelense de Sabra e Chatila, a guerra do Iraque, Kosovo e o massacre recente do exército israelense nos campos de Jenin. Isto para não falar das guerras emancipatórias : revoluções russa, cubana, chinesa e contra o colonialismo na África e na Índia. Quando quase tudo isso cessou após 1945 nós tivemos 150 guerras com 20 milhões de mortos.
O século XX foi, sem dúvida, um século da morte. Com o final da guerra fria entramos num mundo tenso, complexo e inseguro marcado pela acumulação de armas químicas, biológicas, bacteriológicas, com a presença de estados terroristas modernos ou tradicionais e a proliferação de grupos terroristas estatais ou para militares.
Jamais poderemos esquecer que vivemos no cenário de uma guerra social sem precedentes na história da humanidade. A cúpula social de Copenhague traçou ,em 1985, um quadro alarmante : "Mais de 1 bilhão de seres humanos vivem numa pobreza abjeta, passando maior parte deles forme todos os dias. E mais de 120 milhões no desemprego e muito mais no subemprego". A crise social expande-se pelo desenraizamento e despertencimento, fruto da imposição de modos de vida pela modernidade, materializados em sociedades que perderam, em grande parte, a sua moralidade, seus valores éticos e espirituais. É possível diagnosticar hoje uma fratura societária marcada pela exclusão social e cultural, a violência cotidiana e a degradação ambiental, trazendo como resultado um estilo de vida individualista e consumista e a perda dos laços de solidariedade entre as pessoas e no interior das comunidades.
O Brasil com seus indicadores de desenvolvimento humano já conhecidos, a sua fome de um quinto da população e seus 40.000 homicídios anuais é mais do que um reflexo da cultura da violência no mundo contemporâneo.
O PAPEL DA EDUCAÇÃO
Aqui os processos educativos ganham uma centralidade talvez jamais vista na história contemporânea, não apenas considerando a escola formal mas também a "escola da vida" que é constituída por outros espaços, experiências e saberes. A educação ganha um sentido cada vez mais claro de contribuir para o desenvolvimento humano e não apenas para qualificar jovens e adultos para o mercado de trabalho. Como diz estudo da UNESCO: "A educação não serve, apenas, para fornecer pessoas qualificadas ao mundo da economia: não se destina ao ser humano enquanto agente econômico, mas enquanto fim último do desenvolvimento". Surpreende-me que o discurso corrente ainda seja aquele de preparar o educando para o mercado de trabalho. Escolas marcadas pela lógica empresarial já chamam o seu aluno de cliente. Sem comentários.
Mas, afinal, o que é desenvolvimento humano ? Desenvolvimento humano é a conquista de uma vida mais saudável e longa, o acesso a bens e serviços que possibilitem uma existência digna, pessoal e coletiva. Mais ainda o acesso a conhecimentos úteis e a valores éticos e o reconhecimento dos direitos políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais construídos com cidadania e participação. Mais: a possibilidade de produzir e exprimir a sua criatividade e construir com diversidade um rico imaginário. Finalmente: a realização de uma cultura do ser e não apenas uma cultura do ter.
A partir deste referencial podemos já concluir que a educação está predestinada, cada vez mais, a ter um papel complexo e fascinante no desenvolvimento humano. Mas se o papel da educação é voltar-se para o desenvolvimento humano e não apenas qualificar estudantes para o mercado de trabalho ou mesmo não reverenciar simplesmente valores do passado, como devemos compreender o processo educativo?
Retomo a discussão da UNESCO sobre os quatro pilares da educação pois esta forma de apresentar é a mais completa das que eu tenho conhecimento. Esta separação em 4 itens é convocada e assinada pela UNESCO mas tem a presença dos maiores educadores e pensadores do planeta.
A partir desta apresentação didática faço a minha reflexão, fruto de experiências com educação e cultura e de encontros nacionais e internacionais que tenho participado ao longo destes últimos 20 anos.
a) Aprender a Conhecer Sem duvida este, desde sempre, é um pilar da educação. Conhecer é uma das finalidades da vida dos seres humanos. Conhecer, descobrir mundos imagináveis ou inimagináveis. Mas devemos perguntar: conhecer o que? O procedimento cientifico de interpretar o mundo? Existem sociedades cujo cogito é diferente do nosso, mesmo no interior de nossa sociedade. Aprendi com um indiano que a na Índia a maior forma de comunicação é o silencio, depois o gesto e, por último, a palavra. No mundo ocidental é o inverso. Portando, a educação deve nos possibilitar a conhecer o nosso mundo e suas diferentes culturas, mas também outros mundos que se cruza com os processos transculturais. Não é justo que negros e índios tenham que ser reeducados com nossas categorias e visão e integrar-se ao mundo dos brancos negando a sua essência, a sua ancestralidade, a sua cultura. Há alguns anos atrás o Conselho da Condição Negra da Bahia lutava para incluir no currículo das escolas a capoeira, a música afro, a religiosidade negra. Por outro lado, o conhecer não é apenas da ciência ou dos livros mas do corpo, das habilidades manuais, o sentir, as dimensões espirituais. A escola neste milênio terá que abrir sua mente e suas portas para outros saberes não oficiais ou formais, para a multifacetada experiência humana, contribuindo para novas sínteses oriundas dos saberes e da transdisciplinaridade.
b) Aprender a fazer Este é um tema amplo. Aprender a fazer é desenvolver capacidades individuais e coletivas: habilidades profissionais, artísticas, científicas, comunicacionais, políticas etc. Para aprender a fazer é vital democratizar a palavra, vivenciar desde a infância a democracia, perder o medo da rígida hierarquia escolar, desenvolver competências e acrescentar humanidades as pessoas, e com uma visão de sociedade sustentável. Aqui a chave é o pensar-agir, a coerência entre o conhecer e aplicação prática do conhecimento, a transformação de realidades pela construção de parâmetros éticos na vida cotidiana.
c) Aprender a viver juntos Este talvez seja o maior desafio do processo educativo. Aqui é fundamental o reconhecimento da diversidade e o respeito aos valores do pluralismo. A escola ainda não está preparada para reconhecer e dialogar com as diferenças. A dialogia na comunidade escolar é pobre. Os professores, além da troca de cumprimentos e idéias rápidas na sala dos professores e nos intervalos, se conversam muito pouco; entre professores e alunos há uma autêntica muralha : alunos desconfiam de professores, grande parte dos professores se consideram donos do poder e do saber e matam o espírito critico do aluno e a sua curiosidade; não há uma cultura de relacionamento entre professores, alunos e funcionários, estes são mão de obra pronta para servir e não para serem considerados como sujeitos dos processos educativos. O saber formal é muito autoritário e impõe verdades duras na realidade escolar. Aqui deixo indicado aos supervisores que repensem o seu papel, a sua função nos processos educativos, não apenas como fiscais da qualidade discutível de ensino, mas como transformadores de realidades e impulsionadores de novos paradigmas da educação. Com este horizonte os supervisores poderão vir a ser elos vitais para a construção da cultura da paz nas escolas e na comunidade escolar. Ações de cooperação entre alunos e da escola com a comunidade devem ser centrais nas atividades escolares, pois o sucesso individual e a competição norteiam a vida em sociedade e o imaginário social.
d) Aprender a Ser Esta deveria ser a finalidade última de todo o processo educativo na família, na vida religiosa e comunitária, na vida escolar. Para aprender a ser, o estudante deve ser formado na sua integralidade: inteligência, sensibilidade, responsabilidade social e pessoal, ética, espiritualidade etc. Ao contrário de uma educação tradicionalista deve afirmar o direito de criar fundador da cultura e construir-se como sujeito. O lugar da arte deveria ser mais destacado na educação. Ela contribui para um aperfeiçoamento do ser, forma comunidades de emoção e seres sensíveis a vida. Trabalhos culturais com arte demonstram contribuir para o desenvolvimento da auto-estima e da sociabilidade do jovem, componentes indispensáveis da cidadania.

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